24 de junho de 2015

CRÍTICA: E Sua Mãe Também

Y Tu Mamá También, 2001, Alfonso Cuarón

Por Tiago Lima


A sociedade mexicana, como qualquer outra, tem suas peculiaridades. Alfonso Cuarón, diretor do longa "Y tu mamá también", resolveu voltar seu olhar para a classe média alta, representada na figura de dois jovens, Julio e Tenoch.

Além deles, há também Luisa, personagem que acaba aguçando a curiosidade e libido sexual dos dois garotos. Juntos, os três personagens embarcam em uma viagem de carro rumo a uma praia, que na verdade foi inventada pelos rapazes como forma de impressionar Luisa que, ferida graças à traição de seu marido, vê na viagem uma maneira de minimizar suas mágoas e encontrar na estrada um novo caminho. Enquanto isso, os jovens esperam apenas continuar aventurando-se dentro de sua juventude.

Durante o caminho, a personagem feminina, em meio a seus conflitos, passa a desenvolver diálogos com o rapazes, provocando diversos questionamentos entre eles, acerca de sua amizade, da forma como vivem, lealdade, entre outras questões. Luisa torna-se uma espécie de protagonista, pois passa a ser a pivô de tais questionamentos, mesmo que de forma branda. É a partir desse momento que o filme define do que se trata: uma jornada entre os limites territoriais do México e do psicológico de cada um, passando a se descobrir mais firmemente como pessoa. 

Imprescindível apontar a forma como o diretor apresenta o perfil de cada personagem. Fazendo uso de narração em off, que faz diversos cortes no áudio no universo diegético, porém sem interromper as imagens - mesmo que elas sejam totalmente desconexas do que se narra - nos aproximamos dos personagens, conhecendo um pouco de suas vidas, fato que facilita a percepção das personalidades e de suas histórias, criando um contexto para que se compreenda e analise suas atitudes além do que se vê em ação na figura dos atores.

Cuarón constrói o seu filme com base nos típicos road movies, eventualmente mostrando paisagens, fazendo um recorte geral da cultura dos povos que vivem nas cidades pelas quais os personagens passam. A visão das estradas funcionam como uma metáfora ao caminho que os personagens irão percorrer ao final da viagem, longa e definitiva no rumo de suas vidas.

Mesmo tendo um roteiro simples e não muito diferente do que se costuma ver nos filmes do gênero, "Y tu mamá tambiém" tem méritos graças ao fato de que sua solução narrativa não se baseia em aspectos já utilizados diversas vezes antes, como recursos de suspense, por exemplo.

O fato de os conflitos serem iniciados a partir de questões cotidianas, como a traição mútua dos amigos, e por serem protagonizadas por jovens que, de fato, não vivem rodeados de afazeres ou de rotinas marcadas por dificuldades, poderia fazer com que o filme fosse apenas mais um recheado de drogas, sexo e dramas adolescentes, entretanto, a forma como o diretor aborda tais pontos torna a trama extremamente interessante.

Acompanhar o desenvolvimento dos personagens, principalmente devido à forma como Alfonso Cuarón constrói o seu filme, foi poucas vezes tão interessante e estusiasmante. As estradas mexicanas e o rumo dos personagens atrelados faz de "Y tu mamá también" um singelo - e também intenso - registro da vida e suas peculiaridades.

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