25 de junho de 2015

CRÍTICA: Terra do Silêncio e da Escuridão

Land des Schweigens und der Dunkelheit, 1971, Werner Herzog

Por Vitória Alves


O documentário começa com a tela escura, também somos cegos nesse instante. Porém, esse pequeno vislumbre é apenas um prólogo para essa nova perspectiva de mundo que está porvir. O filme é um produto do Novo Cinema Alemão, dirigido por Werner Herzog, uma das figuras mais importantes do cinema moderno pós-guerra da Alemanha.

A narrativa acompanha Fini Straubinger, que perdeu a visão e a audição na adolescência, enquanto ela faz seus deveres como representante de uma associação de surdo-cegos e relembra seu passado.

Capturando o dia a dia de Fini, Herzog traz conscientização em relação às dificuldades desse grupo de pessoas que precisa de uma atenção especial por parte da sociedade, sempre valorizando a experiência da primeira vez. É também no registro dessa primeira vez que a trilha sonora, que é pouco utilizada, aparece de forma tênue, para acentuar o momento.

É muito presente durante o filme o ‘close-up’ nas mãos, já que é a forma de comunicação de Fini e seus amigos, é como eles entendem e recebem o mundo. O primeiro plano também é constante, com pouquíssimos planos abertos, penso que talvez Herzog tente nos passar um pouco mais da experiência de não saber o que está ao nosso redor.

Acontece uma explicitação do aparato de filmagem, característica do cinema moderno, quando Fini e seus amigos estão visitando o zoológico, em uma cena muito divertida, que um macaquinho puxa a câmera e uma parte se torna visível na tela. Cenas “mortas” são apresentadas de forma diferenciada, são cenas que o espectador assiste como se estivesse realmente espiando a vida desses “personagens”, já que algumas vezes eles não sabem que estão sendo filmados, como na cena do rapaz de 22 anos que é surdo-cego desde o nascimento.

Típico do gênero documentário, as imagens de arquivos aparecem, no entanto de uma forma peculiar: nos primeiros minutos, elas são usadas para ilustrar a imaginação de Fini.  O intertítulo, forma dominante no cinema mudo, aparece repaginado, ao invés do uso tradicional de ajudar na compreensão da narração, mostra frases de Fini: “Se uma guerra mundial começasse agora eu nem perceberia”.

O mais interessante do filme talvez seja que ele não tenta passar uma lição de moral. O documentário não faz papel de sentenciador (mesmo na sequência do Congresso), não tenta manipular através de artifícios formais e nem nada parecido. Ele simplesmente registra e nos mostra uma outra dimensão, e nisso nos faz conscientes de que todos somos diferentes e iguais ao mesmo tempo.

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