28 de junho de 2015

CRÍTICA: O medo devora a alma

Angst essen seele auf, 1974, R.W. Fassbinder

Por Vitória Alves


O longa dirigido e escrito por R. W. Fassbinder, um dos principais representantes do Novo Cinema Alemão, é inspirado em “Tudo o que o céu permite” de 1955, filme do diretor Douglas Sirk, que foi uma das maiores influências de Fassbinder, que dedicou a segunda fase de sua cinematografia a filmes com tons melodramáticos, marca de Sirk. 

O filme alemão, como em “Tudo o que o céu permite”, acompanha a relação de um casal. Emmi, que está nos seus 60 anos e Ali, que no máximo está na casa dos 40. Fassbinder, porém, vai mais fundo na questão das diferenças. Ali também é estrangeiro, de Marrocos sai de seu país à procura de emprego, em uma Alemanha que os árabes eram vistos com grande preconceito. 

Independentemente da temática melodramática Fassbinder consegue imprimir na narrativa suas características pessoais. Conseguimos observar elementos peculiares de sua primeira fase, quando a Nouvelle Vague era o movimento que o entusiasmava a filmar. 

A título de exemplo desses elementos peculiares: A interpretação dos atores que até em momentos de grande emoção chega a ser apática. Planos que jamais seriam vistos em um filme clássico. As cenas com um passo mais lento, com longos silêncios. A trilha sonora bem suave, sem dar tons às cenas, diferente do filme de Sirk onde a trilha sonora acompanha as cenas marcantes. 

Entretanto também existem semelhanças nas duas narrativas, como as cores que são bem saturadas, embora não tendo um significado fixo para com os personagens, se faz presente durante todo o filme. Na cena em que Emmi e Ali dançam pela primeira vez eles são banhados por uma luz vermelha que é acesa na pista de dança, uma possível interpretação seria a paixão e o amor futuro. Os reflexos e uso de espelhos também são constantes nas duas histórias.

Fassbinder não mostra soluções para os problemas que são trazidos à tona no longa, ele simplesmente os retrata, sem condescendência. Ele faz o problema ser real, ser visível, esperando a reação do público acostumado com filmes prontos, que se resolvem sozinhos, filmes que não levantam reflexões críticas. E é aí que sua genialidade transparece. A história de Emmi e Ali consegue traduzir perfeitamente essa intenção do diretor alemão.

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