Por Mariana Brandão
Joh Fredersen, poderoso homem que governa Metropolis, cidade que funciona perfeitamente graças ao trabalho árduo de milhares de trabalhadores, tem um filho, Freder, que descobre a condição dos operários na busca por uma mulher que surge inesperadamente nos Jardins Eternos, local onde os filhos dos ricos costumam se divertir (localizado no Clube dos Filhos). Maria, a mulher que Freder procura no mundo dos trabalhadores, cria pouco a pouco, com seu discurso um tanto cristão – por pregar a vinda de um mediador para tirá-los daquela vida miserável –, a esperança de uma revolução do proletariado, levando-os a confiar plenamente nela, a única chance de melhoria de vida que eles têm.
Além da busca de Freder, Metropolis também é cenário da invenção de uma mulher-robô pelas mãos do “cientista louco” Rotwang, que seria, primeiramente, a cópia de Hel, a mãe de Freder, falecida esposa de Joh e amante do inventor, mas torna-se, pela necessidade do poderoso governante, aquela que vai destruir a esperança dos trabalhadores.
O enredo não seria possível sem uma paisagem que favorecesse o desenvolvimento da história: uma cidade movida pelas máquinas, com tantas construções imensas, carros e aviões circulando, que segrega os trabalhadores do restante da sociedade. Há, portanto, uma clara imagem da cidade industrializada e desenvolvida que, apesar de sê-la, se fundamenta no trabalho exploratório de homens, cujos moram bem abaixo da terra, separando o mundo evoluído da miséria daqueles que o sustentam.
A cidade dos operários é um imenso complexo de edifícios, que mais parecem cubículos empilhados – fato acentuado pela iluminação do cenário –, bem abaixo da terra, representando, portanto, a segregação daqueles que trabalham e sustentam a cidade dos burgueses e ricos que reinam em cima. Lá, o único lugar de uso comum é um espaço onde existe uma sineta de alerta, configurando assim a falta de interação até mesmo entre os trabalhadores, que parecem uma massa de máquinas programadas para servir e se confundem com as reais máquinas que eles mesmos operam. Essa representação do proletariado é bem semelhante ao que Charles Chaplin vai retratar em Tempos Modernos (1936), com sua ironia e comédia, onde os trabalhadores são submetidos ao regime extremamente exaustivo de uma tarefa repetitiva.
A verticalização da cidade ocorre tanto na instância dos mais ricos, aqueles que estão em cima da terra, com suas grandiosas construções e “espaços públicos” – o Clube dos Filhos, por exemplo –, como também no proletariado submisso, que mora nos cubículos empilhados abaixo da terra. Entretanto, é possível encontrar uma figura que representa um contraponto a essa arquitetura da cidade, uma casa isolada, que não pertence ao contexto de Metropolis e, portanto, faz sentido que Rotwang, o cientista que vive à margem da sociedade, compenetrado nos seus estudos e invenções, seja o morador desse lugar. É o único momento do filme que é possível ver alguma construção que não é grandiosa ou vertical.
O personagem de Rotwang também simboliza a ascendente tecnologia, visto que ele cria uma mulher-robô, que seria capaz de guiar os homens no futuro, mas acaba sendo um objeto de manipulação das massas revoltadas.
Além do enredo e do belíssimo cenário, é preciso mencionar a direção de arte de Metropolis como um importante e bem feito trabalho. Para mostrar a cidade e sua verticalização, as técnicas de iluminação, produção e fotografia são dignas de tal grandiosidade bastante citada. Essa paisagem bastante atual, mas idealizada em 1927, foi fruto de um trabalho detalhado em estúdio e maquetes, trazendo a realidade futurística de forma extraordinária.
Portanto, é possível dizer que a arquitetura desenhada para ser cenário dessa narrativa estabelece e facilita a manipulação de certa parte da sociedade, aquela que é responsável por seu funcionamento, mas ainda assim não é valorizada, instituindo o medo como uma arma de controle para manter certas pessoas em cima e outras em baixo.
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