Metropolis, 1927, Fritz Lang
por Victor Leite
Na cidade subaquática de Rapture – do jogo Bioshock, nos videoclipes de Madonna e Queen, Dr. Strangelove de Kubrick, C-3PO em Star Wars, Tempos Modernos de Charlie Chaplin. Apesar de quase um século já se ter passado desde o lançamento de Metropolis, sua influência cultural ainda reverbera pelas diversas expressões artísticas do mundo atual. Mas o que um filme mudo de 1927 pode representar e reapresentar para plateias atuais?
Com as diversas restaurações que o filme recebeu, incluindo partes que se julgavam perdidas no limbo cinematográfico, os espectadores nunca se sentiram mais motivados para assistir essa obra prima do expressionismo alemão. Diversas trilhas sonoras ajudaram a reforçar a nostalgia ou incentivar novas criações, como a produzida por nomes ilustres da música como Giorgio Moroder (produtor famoso mundialmente por inovar na disco music trabalhar com nomes como David Bowie, Daft Punk e Britney Spears).
A memorabilidade de Metropolis, contudo, pode ser percebida principalmente no seu visual. Certos planos do filme são simplesmente espetaculares. Seja a revelação do Autômato na festa de gala e sua subsequente performance ou até mesmo a montagem de rostos e olhos que ilustram o discurso do robô. Em seus cenários megalomaníacos, figurinos escuros e maquiagem pesada, Lang conseguiu construir um retrato escapista perfeito daquela época. Enquanto a Alemanha (República de Weimar, naquela época) estava endividada e quebrada, no seu filme os prédios e a riqueza eram vastos. As máquinas, que parecem aqui serem as verdadeiras donas da cidade, são um espetáculo visual a parte. A analogia da esfinge engolindo os trabalhadores é desconcertante.
É dessa referência visual que podemos perceber o grande legado do filme. O videoclipe da música Express Yourself, de Madonna e dirigido por David Fincher, que é um dos mais caros da história, bebe diretamente da fonte do filme, com seu realce de luz e sombra, cenário gigante e relações de poder. Nos quadrinhos de Batman, a cidade escura e gótica de Gotham parece respirar da fonte do filme, com sua pouca luz e prédios altos. A releitura de Tim Burton para Batman, inclusive, tem similaridades gritantes em seu enredo e visual. Uma vilã dos quadrinhos do Superman é diretamente inspirada no Autômato: Mekanique. O próprio Superman estrela uma adaptação nos quadrinhos da história do filme: Superman’s Metropolis (Curiosamente, a cidade que o Homem de Aço protege foi inspirada pelo filme). O laboratório de Rotwang (e a caracterização de seu personagem, o cientista louco) influenciaram dezenas de filmes que viriam nas décadas seguintes, algo que é visto principalmente nos filmes da franquia Frankenstein. Até mesmo em Hair, na cena da dança na igreja, os dançarinos imitam alguns passos da dança do Autômato, já que o coreográfo era um fã de Metropolis. Diversas outras referências podem ser apontadas nas mais diversas mídias: vídeo games, livros, música e filmes, mas a lista ficaria longa. Fritz Lang conseguiu marcar diversas gerações e deixar um legado impressionante que promete continuar influenciando e moldando a cultura das décadas que se passam.
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