Por Bia Bruno
Cópia Fiel, lançado em 2010, é um filme do diretor-roteirista iraniano Abbas Kiarostami, que tem como tema o valor das “cópias”, tanto de arte como da vida real, que são tão valiosas quanto os seus “originais”.
O filme começa com uma palestra dada por James Miller (William Shimell) sobre o seu livro Cópie Conforme – título original do filme – que trata exatamente da ideia de que o valor dado a uma obra de arte vem do subjetivo do ser humano, como no ditado popular “a beleza está no olhos de quem vê”. Uma dona de galeria de arte interessada no trabalhado de James, Elle (Juliette Binoche), o convida para passarem a tarde juntos, para que eles possam discutir sobre o assunto do livro Cópie Conforme. O que começa como um passeio ordinário na Toscana vira um role-playing por parte dos dois personagens, que após serem confundidos como marido e mulher, passam o resto do dia fingindo que são casados há 15 anos e este é o dia do seu aniversário de casamento.
O filme se transforma numa metáfora da teoria já levantada no livro James, pois a relação entre Elle e James, criada em sua maioria por Elle, é uma cópia fiel de um relacionamento conturbado pelo casamento desgastado dos dois, o que também leva o filme às dimensões da metalinguagem e da opacidade, quando dois atores interpretam dois personagens – Elle e James – que em sua diegése, também interpretam outros dois personagens, os de esposa e marido.
Contendo uma narrativa que difere do comum, porém com uma estrutura linear, o filme usa de técnicas cinematográficas como várias vezes o uso de reflexos, sejam ele de espelhos ou no vidro do carro – ou até mesmo dos personagens verem cenas por janelas – para demonstrar o ponto de que não existe de fato um “original”, tudo é, de certo modo, uma cópia ou um reflexo de algo pré-existente. O uso constante de planos fechados também ajuda a desconstruir a noção de filme-janela.
Outra técnica interessante usada por Kiarostami, é quando, em cenas de discussões entre os dois personagens, a mulher falava uma língua e o homem outra, demonstrando assim o desentendimento entre os dois, que literalmente, falavam idiomas diferentes. A constante mudança de cenário e as cenas dos personagens caminhando e conversando dinamizam o filme.
Interessante e surpreendentemente divertido, o filme passa sua mensagem com certa clareza para aqueles que prestarem atenção, pois também pode ser confuso. Rendeu a Juliette Binoche, o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário