Liebe ist Kälter als der Tod, 1969, Rainer Werner Fassbinder
Por Lorena Fragoso
Em seu filme de estréia, Rainer Fassbinder trata das
relações pessoais da maneira mais fria que o pós-guerra poderia oferecer:
rostos que não sentem, não se expressam; corpos que vagam em piloto automático
realizando ações sem esperar por reações.
A história acompanha Franz, personagem interpretado pelo
próprio Fassbinder, um bandido que trabalha por conta própria e é requisitado
por um sindicato de criminosos. Recusando o convite em prol de sua autonomia, conhece
Bruno, membro do sindicato que recebe ordens para segui-lo. Bruno o encontra
escondido com sua noiva, Joanna, uma prostituta que acaba por participar de
roubos a lojas comerciais, bancos e missões de assassinatos com os dois. O
triângulo que, de amoroso, não possui nada: o relacionamento de Franz e Joanna
é distante, onde em nenhum momento se vê nenhum sinal de afeto ou desejo
presente. Ao deitar-se no chão e ter sua cabeça desabotoada por Bruno, Franz se
ofende com a risada que a sua noiva dá, sentindo que ela envergonhou o seu
amigo e esbofeteando-a no rosto como punição.
Os olhos dos personagens estão, na maioria do tempo,
cobertos por óculos escuros, como se os acessórios fossem parte do fardamento
do seu trio fora-da-lei. Seus sorrisos são inexistentes, sendo substituídos por
cigarros, muitos cigarros na boca dos personagens. Matam, roubam e são postos
em situações de risco na maior naturalidade e tranqüilidade possível,
carregando rostos vazios e expressões corporais rígidas sintetizando a frieza
de sua realidade. O tom de monotonia contido nos personagens se faz ainda mais
presente no filme do filme, onde segundos parecem minutos e muitas cenas são
tomadas por silêncios e atitudes naturais, como um longo take onde o trio
caminha ou quando os personagens simplesmente fumam e manuseiam suas armas como
se nem percebessem suas próprias existências.
O filme teve baixo valor de produção, possuindo locações
simples com direção de arte mais simples ainda. O figurino do personagem de
Fassbinder é o mesmo do início ao fim, tendo a imagem do bandido autônomo Franz
refletida em sua jaqueta de couro e calças justas. Joanna é a que mais tem
variedade em suas roupas, e ainda assim só possui três figurinos distintos; enquanto
Bruno parece ter sido retirado de um filme noir, comum chapéu e um sobretudo
negro que lhe dão um ar de detetive. O que se destaca, de fato, é o que o
diretor foi capaz de fazer com tanta simplicidade, dando ênfase a planos
simétricos e bem enquadrados e uma fotografia que consegue transformar atitudes
banais do personagens em belas retratos sobre a frieza que pode existir nas relações
humanas.
Por mais que lento que o ritmo do filme seja, é de se
admirar a competência estética inovadora de Fassbinder que, com uma matéria
bruta simples, conseguiu transformar em obra-prima um dos filmes mais
importantes do Novo Cinema alemão.
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