Warum läuft Herr R. Amok, 1970, Fassbinder e Michael Fengler
Por Isabelle Ramos
Apresentado ao espectador desde a primeira sequência, o Senhor R é o retrato da frivolidade desde essa sua primeira aparição no longa-metragem de Fassbinder e Fengler. Em um plano aberto, o personagem de Kurt Raab é enquadrado junto aos seus colegas de trabalho, mas se torna insignificante não somente para os presentes na cena, mas para a própria câmera enquanto olhar do espectador, que por vezes esquece que ele está no mesmo ambiente que os demais.
Em seguida somos apresentados ao casal Senhor e Senhora R, habituados a vida média, vivem uma rotina comum e lidam com a frieza e distância dentro do relacionamento. O casal, sua mediocridade e seu distanciamento são apresentados ao espectador ao mesmo tempo. Ela dirige e conversa com marido, que ainda não podemos identificar como Senhor R., enquanto é enquadrada sozinha pela câmera num plano fechado de costas. Seu diálogo com o marido mais parece um monólogo, já que a presença dele é ignorada não somente pela mulher, mas também e novamente pela câmera. Essa lacuna acaba sendo uma constante entre os dois, mostrando a não conexão entre marido e mulher.
A câmera instável deixa de ser apenas um dispositivo e entra como uma espécie de personagem ou como o próprio olhar do espectador e ignora o Senhor R, menos quando tenta mostrar o desapontamento dele diante das situações que se formam ao longo do filme: os amigos, a mulher, o chefe e até os pais o tratam com indiferença. O ritmo do longa se mantém com sequências demoradas e preenchidas com diálogos propositalmente enfadonhos que permeiam o filme para significar o seu desfecho.
Isso se dá com a construção de uma trama bem amarrada em que os diretores elaboram uma atmosfera de desprezo para com o Senhor Raab e criam um personagem que apesar de estar inserido em um contexto inerte e monótono e aparentar apatia, dá ao espectador a capacidade de captar a inquietude oculta em seus gestos. Preparando, dessa forma, juntamente com personagem e narrativa, a sequência final do filme que acaba por surpreender os não habituados aos desfechos fassbinderianos e faz com que o Senhor R seja, finalmente, notado.
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