Le diable probablement, 1977, Robert Bresson
Por Isabelle Ramos
Um sufocante estilo de vida moderno. Robert Bresson traz em O diabo, provavelmente (1977), o pessimismo de viver na modernidade através de Charles. Diante de uma crise existencial que o assola, não consegue se aprofundar em relações sociais. Tudo ao seu redor o desmotiva.
O longa-metragem traça o percurso de Charles em busca de uma razão para tudo que lhe aflige. Vagando, tentando realizar “qualquer coisa que seja” em busca de algum sentido para continuar a viver uma vida desconexa com os seus anseios ou não-anseios. Até mesmo o estilo de filmagem dá esse tom vago, a câmera que foca em espaços vazios por um longo período pode retratar a falta desse “algo” na vida do personagem. Inserido numa sociedade que agora vive de maneira mecânica e cheia de individualismos, em que se instalou um verdadeiro “mal-estar”, contribuindo para que ele se sinta ainda mais deslocado.
Ao longo do filme, o que se percebe, é a descoberta de Charles, para o que Freud já havia citado em “O mal-estar na civilização”. Apesar de o homem estar sempre em busca de uma felicidade, e apesar de todos os aparatos criados pela modernidade para que essa felicidade seja alcançada, o homem moderno não consegue ser feliz em sociedade, cria-se um ideal de felicidade, mas que não se sabe ao certo como tê-la. Como se o pessimismo, a desordem do “ser” fosse intrínseca a sua existência. Então, tudo que esse “ser” faz, é continuar essa busca incessante e cheia de frustrações.
E é essa busca que Charles, em O diabo, provavelmente, não consegue sustentar. Ele não consegue representar esse “ser” que acredita em um mundo de idealizações. Acreditar que algo vai mudar não faz parte do seu “eu niilista”. O poder, o dinheiro, a tecnologia, a religião e até mesmo o amor faz com que o personagem se sinta infeliz, traçando o destino do personagem para o que o espectador já sabe antecipadamente, a morte.
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