2 de julho de 2015

CRÍTICA: Nenette e Boni

Nenétte et Boni, 1996, Claire Denis

Por Isabelle Ramos


As sequências iniciais de Nenétte et Boni (Claire Denis, 1996) são preenchidas de cortes repentinos que parecem não conectar as cenas. O sentido da trama parece distante e, de fato, nos primeiros quarenta minutos nada acontece de muita relevância, além da apresentação de alguns personagens que também não representam tanto significado ao enredo e a passagem pela vida de Boniface.

O longa inicialmente se apresenta nas fantasias que Boni traça para o seu perfil em meio aos devaneios sexuais que acabam pairando sobre o filme, quando é apresentado ao espectador através da atração que sente pela padeira. Os sons, a corporeidade impregnada nas sequências ricas em planos detalhe, valorizam os movimentos e gestos realizados de maneira a representar essa tensão sexual, conduzindo o olhar do espectador, mas permitindo suscitar desfechos.

A narrativa se desenvolve com a chegada de sua irmã Nenétte que representa o lado realista na vida de Boni. A rejeição inicial revela a problemática de uma família que foi desestruturada. A morte da mãe e a distância do pai na vida dos filhos, principalmente na de Boni, traça a necessidade que os irmãos têm em criar um vínculo para amadurecer. Claire Denis representa esse aspecto na gravidez de Antonette, agora os personagens têm de decidir essa passagem para a vida adulta.

Esse processo de construção, desconstrução e troca se dá até as sequências finais, Nenétte ainda resistindo em sua insegurança e no rompimento da relutância de Boni com a presença da irmã e sua gravidez. Durante a aproximação dos irmãos, os corpos ainda tem destaque na construção fílmica. Ainda tensionando Boniface de maneira mais sexual, e suavizando as formas de Nenétte em sua gravidez.

Enquanto o longa caminha através das fantasias e as realidades de Boni e o drama de sua irmã, o espectador pode observar que a sua filmagem é explorada mais internamente do que externamente, além de ser permeado de tons frios e ser predominante o uso do vermelho e do azul no cenário, nas roupas e nos acessórios, na intenção de representar a França juntamente com as cenas externas, a Marseille em que o filme está instalado.

Com suas sequências enfadonhas, Nenétte et Boni não é uma experiência fácil. Se apegando a um aspecto narrativo, o desenvolvimento monótono da trama e a longa espera por algum acontecimento faz com que ele seja um filme que dá chance ao espectador de se perder diante do seu seguimento e se cansar facilmente.

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