Nenétte et Boni, 1996, Claire Denis
Por Isabelle Ramos
As sequências iniciais de
Nenétte et Boni (Claire Denis, 1996) são preenchidas de cortes repentinos que
parecem não conectar as cenas. O sentido da trama parece distante e, de fato,
nos primeiros quarenta minutos nada acontece de muita relevância, além da
apresentação de alguns personagens que também não representam tanto significado
ao enredo e a passagem pela vida de Boniface.
O longa inicialmente se
apresenta nas fantasias que Boni traça para o seu perfil em meio aos devaneios
sexuais que acabam pairando sobre o filme, quando é apresentado ao espectador
através da atração que sente pela padeira. Os sons, a corporeidade impregnada
nas sequências ricas em planos detalhe, valorizam os movimentos e gestos
realizados de maneira a representar essa tensão sexual, conduzindo o olhar do
espectador, mas permitindo suscitar desfechos.
A narrativa se desenvolve
com a chegada de sua irmã Nenétte que representa o lado realista na vida de
Boni. A rejeição inicial revela a problemática de uma família que foi desestruturada.
A morte da mãe e a distância do pai na vida dos filhos, principalmente na de
Boni, traça a necessidade que os irmãos têm em criar um vínculo para
amadurecer. Claire Denis representa esse aspecto na gravidez de Antonette,
agora os personagens têm de decidir essa passagem para a vida adulta.
Esse processo de construção,
desconstrução e troca se dá até as sequências finais, Nenétte ainda resistindo
em sua insegurança e no rompimento da relutância de Boni com a presença da irmã
e sua gravidez. Durante a aproximação dos irmãos, os corpos ainda tem destaque
na construção fílmica. Ainda tensionando Boniface de maneira mais sexual, e
suavizando as formas de Nenétte em sua gravidez.
Enquanto o longa caminha
através das fantasias e as realidades de Boni e o drama de sua irmã, o
espectador pode observar que a sua filmagem é explorada mais internamente do
que externamente, além de ser permeado de tons frios e ser predominante o uso
do vermelho e do azul no cenário, nas roupas e nos acessórios, na intenção de
representar a França juntamente com as cenas externas, a Marseille em que o
filme está instalado.
Com suas sequências
enfadonhas, Nenétte et Boni não é uma experiência fácil. Se apegando a um
aspecto narrativo, o desenvolvimento monótono da trama e a longa espera por
algum acontecimento faz com que ele seja um filme que dá chance ao espectador
de se perder diante do seu seguimento e se cansar facilmente.
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